Nunca foi só futebol: um estudo sobre o Futebol Callejero vivenciado por mulheres
- Andressa Vieira Allet (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS)
- Augusto Dias Dotto (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS)
- Carolina Caneva da Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS)
- Tobias Gernhardt de Souza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS)
- Raquel da Silveira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS)
O Futebol Callejero propõe uma forma de se pensar e jogar futebol, onde meninas e meninos jogam juntos e criam as regras do jogo, não tem árbitro e sim um mediador ou mediadora que auxiliam na construção das regras e resoluções de conflitos e existe também momentos de diálogo e reflexão baseado em valores humanos e sociais. Dentre inúmeros lugares, este futebol está presente em um programa social esportivo no Brasil denominado PEI (Programa Esporte Integral). Ele atende crianças e adolescentes com idade entre 7 e 17 anos de idade em situação de vulnerabilidade social no município de São Leopoldo/RS. O programa existe há 35 anos e têm como objetivos a formação da cidadania ativa, o protagonismo juvenil, a promoção da equidade de raça e gênero e exercício do direito ao esporte e lazer. Considerando a relevância e longevidade deste projeto, o objetivo desta pesquisa é compreender como mulheres ex participantes do PEI, vivenciaram e construíram suas trajetórias de “ser mulher” no Futebol Callejero. A construção dos dados foi realizada com 22 mulheres através de um grupo de Whatsapp que iniciou em meio à pandemia (2021). Logo após a flexibilização dos protocolos de prevenção ao Covid-19, realizamos encontros presenciais através de práticas de futebol e conversas em grupo, bem como 19 entrevistas semi-estruturadas individuais e elaboração de diários de campo. A análise das informações foram realizadas a partir da Sociologia Pragmática a qual nos possibilitou compreender o Futebol Callejero como um ‘momento crítico’ na vida das mulheres. A partir dessa experiência elas passam a colocar em questão compreensões sobre a noção de gênero e suas próprias formas de serem mulheres. Pudemos identificar nas falas delas desconstruções relacionadas à reprodução do machismo, tanto no futebol, quanto em seus ambientes familiares, fortalecendo-as, para outros espaços em que vierem atuar enquanto mulheres, como por exemplo em suas profissões. Também ficou evidente que a prática do Futebol Callejero no PEI provoca mudanças nas operações críticas dessas mulheres sendo um espaço/tempo de empoderamento.