Eje 7: Formación y trabajo docente en perspectivas feministas y de género

Neg fridas organizando para desorganizar: uma história de experiência coordenando um núcleo de estudos de gênero

  • DOS SANTOS FILHO, Daniel José (Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Identidades - UFRPE/FUNDAJ)
Resumen

Sou Daniel Filho, professor da rede estadual de ensino desde 2006, com formação em letras (AESA-CESA), extensão em filosofia (UPE), mestrado em psicanálise aplicada à educação (UNIDERC) e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Identidades (UFRPE/FUNDAJ). Atualmente estou licenciado para o curso, mas estava exercendo a função de coordenador de Biblioteca e Coordenador do Núcleo de Estudos de Gênero na Escola de Referência em Ensino Médio de Jatobá, localizada em Petrolândia, sertão de Pernambuco, região do Submédio São Francisco. Quando cheguei nesta escola em 2015 conheci e apoiei o trabalho da professora de filosofia e artes, Suemys Pansani, que buscava dentro de suas aulas e intervenções culturais/pedagógicas, empoderar estudantes acerca de conceitos relacionados a respeito e direitos humanos, mais especificamente, aprofundando a temática de como o machismo e uma sociedade patriarcal afetam negativamente toda sociedade. A série de aulas, rodas de conversa e palestras gerou um trabalho de intervenção no Dia da Mulher (8 de março de 2016) que consistia numa marcha de denúncia de violência contra a mulher, acrescendo a necessidade de se discutir outras pautas feministas como construção da igualdade de gênero. O projeto foi chamado: “Reinventando Frida Kahlo”. A história da pintora mexicana inspirou as ações do grupo que teve reconhecimento pela mídia e Estado. Redações foram premiadas no Prêmio Naíde Teodósio, onde pude atuar como orientador e corretor dos textos. Porém a professora precisou fazer uma mudança e pediu transferência de unidade escolar. Poucos meses depois, por conta do meu envolvimento de apoio ao movimento, recebi da gestão escolar o desafio de dar continuidade ao grupo coordenando os trabalhos na forma de NEG (Núcleo de Estudos de Gênero). Soou antagonista a mim, homem, branco, heterossexual, cisgênero, consequentemente, longe de compreender as dores e obstáculos enfrentados por quem lida com machismo, racismo, homofobia, por mais empatia que exercite, coordenar um grupo que precisa de uma identidade protagonista de quem viveu e combate tais problemáticas sociais.

Mas era assumir ou ver se desfazer o núcleo, visto que outras professoras e apoio pedagógico não se sentiam à vontade em trabalhar os temas. Compreendi, então, que coordenar não significaria tomar lugar de fala, mas, ser âncora para que, cada vez mais, mais pessoas tomassem esse espaço. Era a possibilidade de honrar o legado deixado pela colega e amiga que deixara a escola, materializar a pedagogia emancipadora que transgride e liberta, assim como poder desconstruir em mim muitos traços culturais de machismo carregados desde o nascimento. Qual o primeiro passo? Compreendi que uma ação a instigar necessitava ser feita. Não poderia chegar nas salas de aula me apresentando como novo coordenador do núcleo e que os encontros de estudos aconteceriam num terceiro turno (visto que são estudantes de período integral, manhã e tarde) e acreditar que juventudes, cansadas da rotina, iriam se interessar em ter mais um turno de estudos. Como primeira ação à frente da coordenação, orientei sobre uma ação que aconteceria no município em 20 de Agosto de 2019: A III Conferência Municipal da Mulher. Convocada pelo Conselho Municipal de Direitos da Mulher e a Coordenadoria Municipal da Mulher do município. Sob o tema: “Mulher e Democracia: uma agenda de lutas por direitos iguais”, diversos segmentos sociais da comunidade participaram em salas temáticas questões sociais de gênero e políticas públicas. Pedi autorização à gestão para convidar meninas interessadas em participar e assumi o compromisso de levá-las e organizar suas participações. Por sala fui lançando o convite e, ao final do dia, junto às interessadas em participar, expliquei sobre a função do conselho e que a conferência tinha um poder deliberativo de construção de políticas públicas que afetavam diretamente nossas vidas. Expliquei ainda o processo de inscrição e participação na plenária e nos Grupos de Trabalho (GT’s), assim como a possibilidade de uma delas poder se candidatar a delegada na fase estadual do encontro. No dia seguinte, pela manhã, fomos em grupo, com pelo menos uma estudante de cada turma, ao total 13 estudantes, participar do evento que aconteceu na quadra da Escola Estadual Delmiro Gouveia. Fizeram o credenciamento escolhendo o GT que participariam por afinidade ao tema, participaram da plenária de abertura assistindo apresentações culturais e ouvindo palestras e depoimentos de mulheres trabalhadoras, indígenas, quilombolas. O evento foi aberto pela prefeita Janielma Souza, primeira mulher a governar o município. Saindo dali para os GT’s, as estudantes puderam compreender que a política se faz de forma participativa a partir de diálogos, identificação de problemas, encaminhamentos, reivindicações. A primeira grande conquista veio na forma de candidatura de uma das estudantes, Ana Geisa, à delegada para a fase estadual da conferência. Ficou na suplência, mas ficou feliz por ter vencido a timidez e defendido sua participação. Um dos muitos pontos levantados nos grupos e levado para a plenária geral de encerramento foi a importância de se ter, desde os anos iniciais, estudos de gênero nas escolas para a quebra de preconceitos e emancipação das mulheres rumo à igualdade de direitos. O tema instigou ainda mais a retomada de atividades do NEG e, a partir dali, apresentei-me como facilitador do projeto, caso elas aceitassem. Aceitaram e marcamos uma reunião para o dia seguinte, no horário do almoço, na sala de leitura da escola.